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As influências da Comunicação Visual


Temos falado bastante sobre a importância de pensarmos nos significados das coisas que comunicamos, né? Desta vez vamos falar sobre Comunicação Visual e refletir um pouco sobre como uma abordagem comunicacional pode influenciar tanto nas nossas vidas. Para trazer a reflexão um pouco mais para perto e te instigar a matutar com a gente, usaremos o livro Não verás país nenhum, de Ignácio de Loyola Brandão.


Publicado em 1981, o livro é uma distopia que se passa em uma realidade cada vez mais parecida com a nossa, principalmente para quem vive em cidades urbanizadas (já que a trama acontece em São Paulo): descaso com a natureza, água em escassez, calor excessivo, ar poluído, lixo pra todo lado, alimentos industrializados, uma sociedade corrupta, violenta e desinteressada, entre outras tantas questões problemáticas. Os acontecimentos são narrados por Souza, um professor de História que foi impedido de realizar seu trabalho devido às leis de segurança.


Cartas na mesa


O conceito de Comunicação Visual se refere a um "conjunto de técnicas, conhecimentos e procedimentos que buscam maior eficácia na transmissão visual de mensagens verbais e não-verbais através dos diversos meios de comunicação" (ASSOCIAÇÃO..., 2000, p. 28).


A Comunicação Visual trata de tudo aquilo que vemos e nos comunica algo: um símbolo, um desenho, uma palavra, um texto, uma pessoa, um animal, um objeto, uma escultura (nesse post aqui contamos um pouco sobre os diferentes tipos de comunicação).


Até mesmo a forma como uma pessoa decora sua casa ou a si mesma é uma forma de comunicar visualmente.


No livro, Souza fala sobre os objetos de sua residência: "Humanizamos os objetos, fizemos deles os nossos representantes. Eles simbolizavam, definiam. Eram a nossa expressão. Eles eram nós. Transferimos, nos ligamos, promovemos um culto que nada mais foi que uma substituição deformada." (BRANDÃO, 2008, p. 239)


Tendo em vista que a Comunicação Visual é realizada também de forma representativa, vamos entender alguns conceitos que compõem essa representatividade:


pictograma: são as formas, figuras e ícones. Normalmente é versátil e de fácil entendimento, não dependendo de conhecimentos específicos e aprofundados para compreensão. É como relata Souza: "[...] Não é preciso saber ler. Todas as informações desta cidade estão feitas por meio de visuais. Nenhuma palavra, mas um código específico que o povo aprendeu." (BRANDÃO, 2008, p. 59).


símbolo: é a composição de um desenho ou ilustração. Tem o objetivo de reunir informações sobre algo e comunicar esse algo. Pode demandar um breve raciocínio para compreensão. No livro também tem uma passagem interessante para ilustrar esse conceito, que é um diálogo entre Souza e um fiscal de trânsito:

- Não viu as placas visuais? Proibido estacionar nesta área!

- Pensei que fosse apenas para veículos.

- Não sabe interpretar placas? O P, imitando bonequinho significa Proibido Pessoas Estacionarem.

(BRANDÃO, 2008, p. 316).


"A linguagem visual, com a utilização de símbolos gráficos, tem a capacidade de comunicar as mais diversas informações. Muitas vezes ultrapassa especificidades linguísticas e, quando inserida em contextos específicos e com alguma aprendizagem anterior do observador, transmite mensagens que podem ser interpretadas sem o auxílio de nenhuma outra fonte de comunicação." (GARCIA, 2012, p. 14, grifo nosso)


Como já dissemos: tudo tem intenção de comunicar algo. O que precisamos prestar atenção é no que queremos comunicar e no que as coisas nos comunicam. Recentemente falamos sobre como um símbolo pode transmitir ideias e reforçar ideologias (acesse aqui).


Mesmo que um símbolo ou pictograma seja bem elaborado e de fácil compreensão, existe uma função cerebral responsável pela assimilação de imagens e ilustrações. A disfunção que ocasiona uma dificuldade de interpretação é conhecida como assimbolia, patologia mental causada por uma falha no córtex (LURKER, 2003). Então, nem sempre a não-interpretação ou dificuldade de compreensão de um elemento visual está diretamente relacionada à bagagem de conhecimento de alguém.


A Comunicação Visual é uma ferramenta de forte poder de controle, com significativa capacidade de influenciar e moldar o que pensamos e como agimos, a partir do tipo de conteúdo visual que consumimos, seja uma ilustração, um texto, um objeto ou um vídeo. Com isso, percebemos o quanto as ferramentas estão cada vez mais interligadas.


REFERÊNCIAS


ASSOCIAÇÃO DOS DESIGNERS GRÁFICOS DO BRASIL. ABC da ADG: glossário de termos e verbetes utilizados em design gráfico. São Paulo: ADG, 2000. Disponível em: http://carloscafedias.com.br/progvisual/ABC%20da%20ADG.pdf. Acesso em: 09 maio de 2016.


BRANDÃO, Ignácio de Loyola. Não verás país nenhum. 27 ed. São Paulo: Global, 2008.


GARCIA, Graziela Gallo. Os significados da seta: análise do símbolo gráfico em sistemas de sinalização, de esquematização e de identidades visuais. 2012. 141 f. Dissertação (Mestrado em Interfaces Sociais da Comunicação) – Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/27/27154/tde-17042013-110157/pt-br.php. Acesso em: 15 abr. 2016.


LURKER, Manfred. Dicionário de Simbologia. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003.


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